À procura do Grande Mestre, pela sétima vez o buscador entrou no templo onde dezenas de monges meditavam no átrio, com suas vestimentas simples, porém impecáveis. Silenciosa e respeitosamente, um homem velho limpava o piso com um esfregão, tarefa que foi interrompida quando o neófito lhe perguntou:
— Bom dia. Nos últimos dias vi o senhor fazendo a limpeza e jardinagem à volta do templo… Trabalha aqui há muito tempo?
— Sim. — e retomou a tarefa.
— Desculpe a interrupção, mas é que tenho vindo dia após dia em diferentes horários em busca do Grande Mestre, mas nunca o encontro.
— Oh! — fez o faxineiro interrompendo a tarefa e apoiando os braços na haste da mopa. — O Mestre anda sempre tão ocupado…
— Sim, mas desejo muito falar com ele. Venho de longe em busca dos ensinamentos dele, pois a fama da enorme sabedoria desse líder tem se espalhado como as sementes de dente-de-leão ao vento… Já faz sete dias que venho…
— Não me lembro de lhe ver aqui na segunda. — interrompeu o faxineiro.
— Pois eu estive aqui pela manhã, quando o senhor varria o pátio do templo, não se lembra?
— Ah… Tem razão. Desculpe-me, tenho a memória tão fraca… E depois?
— Retornei na terça-feira. Duas vezes.
— Não recordo… Acho que terça foi meu dia de folga.
— De maneira alguma. Deve ter sido o dia que o senhor mais trabalhou! Esteve o dia todo cruzando o pátio com um balde de madeira que levava ao poço e trazia cheio até o alojamento. Ainda lhe vi estendendo roupas no varal pouco antes do meio dia e voltando para as recolher quando o sol estava se pondo. Disseram-me que o Grande Mestre costuma ficar a sós no Templo às terças, por isso fiz plantão aqui.
— Acho uma lástima o Mestre ser tão ocupado… Um bom dia para conversar com ele é a quarta-feira…
— Mas quarta-feira o senhor mesmo me disse que ele só poderia atender no domingo! Não se lembra?
— Não…
— Como não? Conversamos lá fora!
— Onde?
— Na horta onde o senhor colhia uns tomates.
— Ah, tem razão. Quarta eu estive fazendo a jardinagem e adubando a horta. Agora me lembro, havia belos tomates. Hum… Isso me lembrou uma coisa… Preciso ir para a cozinha, estou atrasado! Vou preparar uma sopa de legumes para os monges, que estão meditando há horas. Além do mais, hoje é domingo, sempre gostam de um bom caldo aos domingos. Até logo!
Dizendo isso o velho se retirou.
O buscador esperou por algumas horas, até que o primeiro monge se levantou e veio em sua direção. Mal se cumprimentaram, o monge perguntou:
— O que faz aqui, jovem?
— Vim em busca do Grande Mestre. Será que pode me levar até ele?
— Sim, será um prazer. Venha.
O monge guiou o rapaz até o refeitório, onde o velho colocava sobre a mesa tigelas cheias de sopa.
— Mestre, esse rapaz deseja conversar com o senhor. — disse o monge ao cozinheiro fazendo uma breve reverência.
O velho sorriu para ambos:
— Será um prazer, embora eu pense que já conversamos o suficiente. Sente-se, jovem buscador. Permita-me servir-lhe um pouco de sopa.
