Não pensem que existe uma obsessão por publicar livros. Não sei se consigo explicar, mas hoje, a um passo de ter meu terceiro livro editado, o que bate em meu peito é uma angústia chata em substituição da velha e prazerosa ansiedade juvenil. Jogo a culpa no fato de o livro ser uma seleção de poemas: O poema que escrevi há três meses retrata o coração de um homem que deixou de existir há exatos três meses. O poema de ontem é do Bruno que existiu ontem.
Estaria pulando de alegria se pudesse escrever 50 poemas em um minuto e pegar o livro pronto ao entardecer. Mas no dia seguinte, esses poemas não me pertenceriam mais, seriam de qualquer pessoa que os levasse.
Estranha essa vida de habitar outros peitos.
Mês: janeiro 2018
Resenha
Long Distance Blues
Talvez um beijo fira mais que a ausência
E a distância, antítese do abraço
Seja nossa forma de permanência
Diferentes canções no mesmo compasso
Há vida na arte do desencontro
Embora tenhamos nos encontrado
Foi onde morri recostado em teu ombro
A arte da vida é morrer tendo amado
De longe renasço e vejo que cresce
Em viço, cores, aromas e prece
Sinto a tua presença e te alimento
Teu riso me faz sentir alegria
Permite-me o sonho de que algum dia
Ausência não seja nenhum ferimento
Mantra
Sou o camarão que dorme
E a onda não leva
Sou a vara que o vento não quebra
Sou só, mesmo assim sou feixe
Sou onde não chega a regra
Não caio na rede e sou peixe
Pela boca que ladra e morde
Nem morte, nem Roma: me deixe!
Sou o cego que teima em ver
Gato pardo quando quero ser
Tomo banho em água fria
Louco livre de manias
Sou o espeto de ferro
Sou o ferreiro e o ferido
Sou humano quando erro
E as batatas do vencido
Sou o alfa e o ômega onde piso
O primeiro e o último riso
O fogo que não faz fumaça
Caçador no dia da caça
Sou cabeça e sentença
A ocasião do perdão
O monge sem hábito
E sigo só:
Fazendo verão